Entrevista de Érico Borgo
A extensa conversa que você lerá a seguir com Kevin Feige, o presidente do Marvel Studios - empresa responsável por levar às telas os super-heróis da Marvel Comics -, diferente da maioria das entrevistas que publicamos aqui, não foi realizada de uma só vez. Partes dela foram obtidas durante a Comic-Con no ano passado. Outros trechos foram colhidos pelos nossos parceiros do Collider durante a divulgação de Homem de Ferro 2. Editamos esses encontros com Feige em busca de um "mapa" do Universo Marvel nos cinemas, um entendimento do que o estúdio está fazendo em relação aos super-heróis cujos direitos de adaptação permanecem na Casa das Ideias, como Homem de Ferro, Thor , Hulk, Capitão América e seus respectivos universos. Como esses filmes em produção - ou já finalizados - são ordenados? E como serão reunidos no que promete ser o maior evento super-heróico nos cinemas, o filme Os Vingadores? Se alguém tem as respostas essa pessoa é justamente Kevin Feige - simplesmente o responsável por todos os filmes da Marvel. Boa leitura! E boas respostas!
Você mencionou recentemente que Homem de Ferro 2 se passa mais ou na mesma época que o Incrível Hulk...
Kevin Feige: Tem uma coisa em Homem de Ferro 2 que te mostrará exatamente a linha do tempo até aqui. Exatamente em que momento o filme acontece
e em que ponto ele se encaixa ao lado dos outros filmes da Marvel. Você notou isso?
Não. Eles não nos mostraram o easter egg no final do filme.
Não é essa cena. Ela está no filme mesmo.
Há uma conversa entre o Agente Coulson e Robert Downey Jr. em que o primeiro fala sobre o Novo México... ooh, interessante! Eu ac
ho que acabo de encaixar tudo! Então você está querendo dizer que existem
muitos momentos da Marvel que estão acontecendo ao mesmo tempo?
Teremos um pouco de crossover. Só porque são 4 ou 5 anos entre os filmes, não quer dizer que se passaram 4 ou 5 anos em tempo dramático. Há uma discussão no filme, já perto do final, que se você prestar atenção - e isso é para pessoas como nós, não o grande publico -, traz o ponto onde O Incrível Hulk se encaixa nos acontecimentos de Homem de Ferro 2. O monstro esteve no gibi Vingadores #1 e em Os Supremos #1, então ele certamente é uma peça fundamental nesse universo e estará no filme
Os Vingadores. E depois, claro, temos a deixa para Thor...
É, eu estava mesmo comentando por esses dias que preciso assistir de novo. Você está contente em finalmente poder falar sobre esse filme, ao invés de ficar falando em charadas e enigmas?
Eu não gosto muito de falar em charadas, na verdade. Não gosto mesmo. Mas precisamos fazer isso com muita frequência, porque se falássemos abertamente e com o entusiasmo que sentimos, acabaríamos entregando tudo. Se você tivesse publicado isso lá atrás, tenho certeza que teria arruinado tudo. Algumas pessoas hoje vieram falar comigo, dizendo que achavam que os comerciais já tinham entregado tudo. Mas quando viram o filme, isso não aconteceu e falaram como isso foi empolgante. Mas a verdade é que eles [o estúdio] precisam usar quase tudo para vender o filme, certo? É assim que funciona.
Totalmente.
É assim que se vendem ingressos. Mas eu gosto da experiência de ir ao cinema e assistir algo que não esperava ver. E fico contente que ainda temos alguns desses momentos em Homem de Ferro 2. Espero que em Thor e Capitão América as pessoas se sintam da mesma maneira.
Eu gostaria que você falasse um pouco sobre o equilíbrio delicado entre tentar promover um filme e segurar as informações, especialmente pelo fato de que existe um interesse muito grande por Homem de Ferro 2. Bem, muitas pessoas já conhecem os segredos do Homem de Ferro, os quadrinhos já estão aí há algum tempo, mas isso não impede que...
Eu acho que isso é divertido e a expectativa das pessoas é normal, porque vamos interpretar os quadrinhos. Acho que essa é a parte divertida para nós ao desenvolver esses filmes. E acho que por isso as pessoas estão ficando mais confortáveis, pelo fato de que é a Marvel produzindo seus próprios filmes... até que alguém pise na bola, claro... mas acho que eles não esperam que nós mudemos algo apenas por mudar, como é feito em outros estúdios, mas os fãs esperam para ver como e por que vamos mudar. Como eles vão adaptar isso? O vilão Whiplash é um ótimo exemplo. Especialmente o visual, mas até o passado do personagem é uma mistura de coisas diferentes. E acho que os fãs estão esperando para ver como serão essas mudança, essas adaptações. Então esse é meu jeito de dizer que não é só porque eles leram os quadrinhos que o filme vai se desenrolar exatamente da mesma maneira.
Vamos falar sobre o Universo Marvel nas telas. Parte dele está sob controle de terceiros e a todo momento é necessário renovar acordos com os estúdios. Como é esse trabalho? É vantajoso?
Sim, há muitas vantagens. Este é um bom momento para a Marvel. Tem a questão que você citou, de entregar o destino das histórias para outros estúdios. Mas temos uma boa relação com nossos parceiros. A Fox controla as franquias dos X-Men, Demolidor e Quarteto Fantástico. A Sony tem Homem-Aranha e Motoqueiro Fantasma e essa família de personagens. Todas bem sucedidas e a Marvel quer seguir na esteira deste sucesso. Homem de Ferro foi nosso primeiro filme e teve grande sucesso financeiro. Temos muitos planos, mais personagens que vão ganhar vida e que se ligarão uns aos outros no mesmo universo cinematográfico por um longo período.
Quais mutantes ainda são propriedade da Marvel?
Só a Fox tem mutantes. O contrato cobre todos eles. Até porque os mutantes são muito específicos, personagem por personagem. Todos os personagens sobre os quais eles têm direitos são nomeados especificamente nos contratos. E é uma lista bem, bem longa. Então a Cristal, por exemplo, seria da Fox, porque ela é uma mutante.
Interessante. Ela fazia parte de um boato recente sobre filme de baixo orçamento do Marvel Studios. Vamos falar sobre essa história, filmes na casa dos 20-40 milhões de dólares, com alguns personagens secundários e talvez com escolhas mais arriscadas. Essa informação é real?
Bom, eu não sei se os valores de orçamento são reais. Ainda não discutimos necessariamente os orçamentos, mas a ideia é verdadeira, sim. Arriscar acho que é uma coisa que sempre fazemos e sempre tentamos fazer. Fazer escolhas arriscadas é meio que o padrão quando você não faz o óbvio, certo?
Totalmente.
Eu não vejo isso como fazer escolhas arriscadas, necessariamente. Nós vemos isso como não fazer apenas o que é esperado. Mas essa história é verídica no sentido que o departamento de desenvolvimento dos estúdios Marvel está agora ativamente pensando e descobrindo o que fazer depois do filme dos Vingadores. Estamos pensando em quais personagens vamos trazer para as telonas a seguir. Eu já conversei sobre Punho de Ferro, Doutor Estranho e Pantera Negra. Também estamos trabalhando no Homem-Formiga com Edgar Wright há alguns anos. E o que estará nas próximas fornadas? Talvez os Fugitivos, talvez grandes personagens ou não. Um filme solo da Viúva Negra é uma possibilidade. Temos como exemplo e ponto de partida o Blade, que gerou uma ótima franquia. Eu adoro o fato que ele é um personagem do qual ninguém tinha ouvido falar antes. Ele não tinha nem um título exclusivo! Ele era apenas um personagem interessante na série Tumba de Drácula, certo? E isso se tornou uma franquia muito legal. Como Blade, temos centenas de possibilidades.
Existe alguma maneira de vocês retomarem os grandes personagens que estão em outros estúdios?
Todos os contratos são diferentes e muito específicos. Então, por enquanto, os projetos que estão nesses outros estúdios são filmes licenciados - e acredito que continuarão assim durante um tempo. Os estúdios não vão querer se livrar desses personagens.
Kenneth Branagh está dirigindo Thor. Como ajustar o que ele está fazendo com a visão de Jon Favreau para Homem de Ferro no filme dos Vingadores?
Nós tivemos muitas reuniões, com muitas pessoas diferentes, e sempre foi um ponto comum a ideia de não mudar o tom entre os filmes - não mudar aquilo que tornou o filme anterior distinto. Estou confiante na habilidade da minha equipe em reunir todos esses elementos, fazer os efeitos, fazer trajes interessantes e unir essas visões... Jon deu uma qualidade bem-humorada ao gênero. Com Kenneth em Thor estamos trazendo conceitos de super-heróis e fantasia em um sentido mais épico. Em nenhum momento podemos perder o sentindo de união familiar entre as histórias e os personagens.
Kenneth vai trazer algo de shakespeariano aos filmes de quadrinhos. Sabe, eu não conseguia ler Shakespeare na escola, eu dormia ou preferia ler um gibi... mas quando eu vi filmes baseados nessas obras eu conseguia entendê-las e me envolvia com os personagens. Mas, independente do que Kenneth faça em Thor, o fato é que ele ama cinema, ele vai ao cinema toda semana assistir aos blockbusters. Ele está adorando fazer parte deste processo e tem uma visão toda particular das sequências de ação.
Quão desafiadora você imagina que será a fusão desses universos da Marvel, o mágico e o científico?
Nós estamos sendo muito cuidadosos por enquanto com essas coisas em que pedimos para a plateia aceitar, como acreditar que esse bilionário pode inventar essa armadura de metal. Agora temos que acreditar que esse cara russo corrupto pode fabricar uma também - que ele é capaz de fazer aquilo que ninguém mais no mundo conseguiu além de Tony Stark. Na sequência teremos que acreditar em Thor e em dimensões existentes no universo que desconhecemos. Até aqui, então, meio que tentamos no focar em uma coisa a acreditar por filme.
Existem partes do universo Marvel nos quadrinhos que têm tudo isso que você acabou de falar, a ciência, o sobrenatural e a magia. Thor revelará o lado cósmico. Ele será o cara que vai se envolver em aventuras fora deste mundo. E todo o filme foi construído como uma história sobre os nossos mundos se encontrando. Vamos revelando isso aos poucos, para que pareça verossímil. Certamente será fantástico, mas é plausível que esses mundos possam existir dentro do mesmo universo. O filme do Thor é basicamente sobre isso. Se na franquia do Homem de Ferro o público tem que acreditar na tecnologia, essa noção do cósmico e dos portais e das viagens a outros mundos é o que pedimos que elas acreditem em Thor.
E o desafio de fundir essas crenças em Vingadores?
Ah, sobre ser desafiador... então, temos que reunir o que já conhecemos de Homem de Ferro com o universo místico de Thor e somar a isso uma aventura que se passa, na maior parte, nos anos 1940. Então tudo isso é intimidador. Tudo é desafiador. O desafio de Os Vingadores é a interação dos personagens, que também é a parte divertida. Essa é a razão para fazer o filme, não porque temos agora mais pessoas que podem correr muito rápido e bater em coisas. Quem se importa com isso? A parte mais legal de Os Vingadores é a dinâmica entre os personagens: ver Tony Stark discutir com alguém como Steve Rogers, de quem ele não poderia ser mais diferente. E ele é quem vai dar uma lição em Tony Stark, em algum momento do filme. E não sei como Tony Stark vai lidar com isso. Mas estou interessado em descobrir. E como Steve Rogers vai encarar o novo mundo, como ele vai se sentir com a modernidade. Isso é obviamente uma coisa bem anos 1960, um dos elementos essenciais dos quadrinhos. Como Tony Stark, que acha que sabe tudo sobre tudo, vai reagir quando Nick Fury contar para ele sobre a existência de outros mundos? Essa é a razão para fazer esse filme... ele precisa ser como uma primeira parte e não uma continuação.
Você não tem receio da superexposição, já que tem muitos filmes neste estilo por ai?
Me perguntam isso há uns seis anos já. Não que não possa acontecer, mas acho que cruzamos a linha desta onda de filmes ser uma fase passageira. Espero que filmes como Batman - Cavaleiro das Trevas e Homem de Ferro sempre tragam algo novo e inesperado. Eu também não gostava de filmes assim, mas hoje eu adoro! A questão central pra mim é quando o público não vai estar receptivo pra este tipo de produção ou de qualquer coisa oriunda de quadrinhos? Eu não sei... talvez nunca!
Em Os Vingadores vocês estão tentando reunir muitos personagens e contar uma grande história. Você sente que esse é o desafio mais intimidador até agora?
Não. Todos eles são igualmente intimidadores. Homem de Ferro foi muito intimidador. Precisávamos fazê-lo não parecer um robô. É engraçado, as pessoas o entendem agora, mas uma das preocupações iniciais, logo quando começamos o processo de marketing do primeiro Homem de Ferro, era que as pessoas achassem que ele era um robô. Como você neutraliza isso? Fizemos um filme inteiro para neutralizar isso e agora as pessoas falam sobre Tony Stark tanto quanto discutem o Homem de Ferro, o que eu adoro. Eu sentei em uma reunião com executivos da Paramount há dois anos e disse, "eu quero que o nome Tony Stark seja tão reconhecível quanto James Bond. Até mais que Peter Parker, mais que Bruce Wayne. Porque esse nome não é simplesmente a identidade secreta do outro, ele é o herói. Eles são a mesma coisa". E meio que deu certo, funcionou de uma maneira que eu gosto muito. Estamos introduzindo novos personagens em Homem de Ferro 2, mas não é aquela multidão de pessoas novas, pecado que muitas continuações cometem. Continua sendo totalmente a história de Tony Stark. E daí isso vai se entrelaçar com a história de Thor, de Steve Rogers, e já está ligada com a história de Nick Fury e da S.H.I.E.L.D.. Quando Os Vingadores chegar em 2012, não será só uma superequipe com vários caras poderosos. Serão três pessoas - quatro com o Hulk, cinco com Nick Fury - que você já conhece de outros filmes, juntos pela primeira vez.
Thor estreia em 6 de maio de 2011, Capitão América (Captain America: The First Avenger) em 22 de julho de 2011, seguido por Os Vingadores (The Avengers), em 4 de maio de 2012. Homem de Ferro 2 já está em cartaz.
Dossiê Os Vingadores: Uma entrevista com o presidente do Marvel Studios
Postado por
Rafael
on segunda-feira, maio 3
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